Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024 ás 10:01 - Por Ricardo Gouveia
Em 1972, um caso médico intrigante mudou o rumo da pesquisa hematológica: durante um exame de rotina em uma grávida, os médicos descobriram que seu sangue não apresentava uma molécula considerada essencial em todas as células vermelhas conhecidas até então. O achado abriu um mistério que perdurou por 50 anos, mas, finalmente, cientistas do Reino Unido e de Israel parecem ter solucionado o enigma ao identificar um novo sistema de grupo sanguíneo humano, batizado de "MAL".
A descoberta foi celebrada por especialistas, como a hematologista Louise Tilley, do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, que destacou a importância do avanço: "Trata-se de uma grande conquista, fruto de décadas de trabalho em equipe. Isso nos permitirá fornecer melhores cuidados a pacientes com condições raras, mas relevantes."
O sistema sanguíneo MAL vem se juntar aos mais conhecidos, como o ABO e o fator Rh, que são amplamente utilizados na medicina. Embora esses sistemas baseados em proteínas e açúcares ajudem o corpo a identificar ameaças, as transfusões de sangue podem ser fatais quando os marcadores não coincidem, levando o organismo a rejeitar o sangue doado. No entanto, o MAL parece ser um grupo ainda mais raro, afetando uma quantidade ínfima da população.
O caso que originou a descoberta remonta à ausência de um antígeno chamado AnWj no sangue da paciente de 1972. Esse antígeno, presente em mais de 99,9% das pessoas, é essencial para a estabilidade das membranas celulares. A ausência dele levou à suspeita de um novo sistema sanguíneo, algo confirmado pelos estudos genéticos que se seguiram.
Tim Satchwell, biólogo celular da Universidade do Oeste da Inglaterra, explicou que a proteína MAL, responsável por esse novo sistema, é pequena e de difícil identificação. “Precisamos seguir múltiplas linhas de investigação para provar sua existência. Foi uma tarefa árdua, mas inserimos o gene MAL em células sanguíneas AnWj-negativas e restauramos o antígeno, confirmando nossa teoria."
Agora, com o sistema MAL identificado, será possível testar pacientes para determinar se possuem o tipo sanguíneo MAL-negativo por herança genética ou se sua ausência é causada por outros fatores. Essa descoberta abre novas possibilidades para diagnósticos e tratamentos de pessoas com condições sanguíneas raras, proporcionando avanços significativos na medicina transfusional.
O novo sistema pode trazer uma nova era no tratamento de distúrbios sanguíneos raros, oferecendo mais segurança e precisão nos cuidados médicos. Assim, a descoberta do grupo sanguíneo MAL representa não apenas uma solução para um mistério de 50 anos, mas um marco na medicina moderna.
0 comentários:
Postar um comentário