Localizada a aproximadamente 303 quilômetros da capital Recife, Águas Belas se destaca como uma das principais cidades do Agreste de Pernambuco, sendo a terceira maior da região. Com cerca de 43,9 mil habitantes, segundo estimativas do IBGE de 2021, o município não apenas ocupa a 41ª posição entre os mais populosos do estado, como também desponta como o 13º mais rico, de acordo com o Produto Interno Bruto (PIB) municipal. A emancipação política do município ocorreu no dia 13 de junho de 1871, durante o Império, tendo o coronel Benigno Rodrigues Lins como primeiro gestor local.
Raízes que brotam da terra e da história
O nome Águas Belas nasceu da admiração do ouvidor Jacobina, que ao provar das águas límpidas da região exclamou: “Águas belas, as desta povoação que a chamam de Ipanema, quando deviam chamar, antes, Águas Belas”. A origem da cidade, porém, é bem anterior. A região era habitada por povos indígenas tupiniquins, que se unificaram à tribo Carijós posteriormente reconhecidos anos depois como Fulni-ô, que quer dizer “filhos da margem do rio Ipanema” nos arredores da Serra dos Cavalos. Com o tempo, formou-se o povoado inicialmente chamado Lagoa, depois Ipanema, até ser emancipado de Buíque em 1871. A elevação à categoria de cidade ocorreu em 1904.
Segundo registros históricos e estudos de pesquisadores como Olímpio Costa Junior, as comunidades originárias da região resultaram da fusão de diferentes etnias indígenas, entre elas Carapotós, Shocós e Carnijós, que deixaram descendentes ao migrarem para o vale do São Francisco, foi a partir dessa união que nasceu o povo Fulni-ô.
Hoje, a identidade indígena permanece viva, especialmente entre os Fulni-ô, povo originário que habita uma área de mais de 11 mil hectares, dividida em 427 lotes. Com uma cultura preservada com rigor, os Fulni-ô são os únicos indígenas do Nordeste com um idioma próprio em uso, o Yaathê.
Com aproximadamente 5 mil indígenas, a Aldeia Fulni-ô é uma das maiores referências culturais da região. Formada por grupos como os Fola, Foklassa, Carijó e Bobradas, mantém rituais únicos como o Ouricuri, o Toré e a Cafurna, praticados em locais sagrados como a Serra do Comunaty e o Canto dos Guerreiros. Ainda há a aldeia dissidente Xixiáklá, composta por mais de 50 famílias, que reforça a pluralidade étnica do município.
Memória viva nas pedras e no barro
Águas Belas é também um rico sítio arqueológico a céu aberto. São pelo menos 12 locais com pinturas rupestres descobertos desde o século XVII, como o Morro do Angu, Pedra do Sino (tombada pelo IPHAN), o Sítio das Marias Pretas, Serrotão, Morro do Bode, entre outros. Esses registros pré-históricos revelam a longa ocupação humana e a importância cultural da região.
Força afrodescendente e comunidades quilombolas
A memória africana pulsa nas comunidades quilombolas de Curral Novo e Tanquinhos, que celebram o samba de roda, o coco, o samba de pé e as rezas tradicionais como herança viva. A Festa de São Benedito, celebrada nos sítios Quilombo e Pinhão, é exemplo dessa riqueza religiosa e cultural, enraizada nas manifestações populares do povo afrodescendente.
Educação e saúde: desafios e avanços
Na área educacional, Águas Belas possui 28 escolas de ensino fundamental e três de ensino médio. Conforme dados de 2019 do IBGE, o município alcançou nota 4,7 no IDEB tanto para os anos iniciais quanto para os finais do Ensino Fundamental. Esses números indicam estabilidade nos indicadores de qualidade da educação pública e refletem esforços contínuos na busca por melhorias.
Na saúde, a cidade conta com 10 unidades públicas, oferecendo atendimento básico à população. Em 2019, a taxa de mortalidade infantil registrada foi de 15,63 a cada mil nascidos vivos, enquanto as internações por diarreias, segundo levantamento anterior, foram de 0,7 por mil habitantes — índices que colocam o município em posição intermediária entre os municípios do estado.
Economia ligada à terra
A base econômica de Águas Belas está fortemente ancorada na agricultura e na pecuária, atividades que movem a zona rural e sustentam centenas de famílias. O PIB per capita de R$ 8.140,21 (em 2018) evidencia os desafios da economia local, mas também o potencial de crescimento, especialmente com investimentos no setor agroindustrial e turismo cultural.
Cultura viva e turismo com identidade
Um dos maiores patrimônios de Águas Belas é a riqueza de sua cultura. O artesanato indígena, com cestarias, trançados e peças decorativas, revela o talento das mãos que mantêm vivas tradições seculares. A visita à tribo dos Fulni-ô, mediante autorização da FUNAI, é uma experiência única de imersão cultural.
Entre os atrativos turísticos, destacam-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída no século XVII, e a imponente Serra do Comunaty, na divisa com Alagoas, com seus 350 metros de altitude e uma vista de tirar o fôlego. O local é ideal para trilhas, contemplação da natureza e práticas de ecoturismo.
Durante os meses de janeiro e fevereiro, Águas Belas ganha ainda mais cor e tradição com a festa de São Sebastião, que reúne fiéis e turistas em uma celebração marcada por novenas, missas, procissões e manifestações populares como o pastoril e o reisado.
Calendário festivo: devoção e cultura popular
A cidade pulsa ao ritmo de eventos religiosos, cívicos e culturais que ocorrem durante todo o ano. Entre os principais, destacam-se:
Evento | Local | Mês |
---|---|---|
Novenário de São Sebastião | Praça São Sebastião | Janeiro |
Festa de Yassaklane | Aldeia Fulni-ô | Fevereiro |
Semana do Índio | Aldeia Fulni-ô | Abril |
Trezena de Santo Antônio | Povoado Garcia | Junho |
Emancipação Política | Praça N. Sra. da Conceição | Junho |
Festa das Águas | Praça N. Sra. da Conceição | Agosto |
Entrada do Ouricuri | Aldeia Fulni-ô | Setembro |
Festa de São Benedito | Quilombo e Pinhão | Dezembro |
Outros eventos incluem a Feira Livre — considerada a maior do interior de Pernambuco —, vaquejada, motocross, bike trilha, a tradicional “pega de boi” no mato e diversas celebrações religiosas como o Natal, Réveillon, a Festa do Padre Cícero e as trezenas em latim celebradas há mais de 170 anos.
Geografia e território
Com uma área de 885,98 km², Águas Belas está inserida no semiárido brasileiro, o que exige resiliência e adaptação do seu povo. Faz fronteira com os municípios de Buíque, Pedra, Iati, Itaíba e com o estado de Alagoas. O acesso se dá pelas rodovias BR-423 e PE-300, que ligam a cidade a diversos centros urbanos do estado.
Águas Belas é mais do que um nome bonito. É um mosaico de histórias, lutas, fé, resistência e beleza. Uma cidade onde a cultura indígena pulsa em cada canto, e o sertão revela sua força em cada gesto de quem vive com orgulho e esperança no coração do Agreste pernambucano.
Centro de Águas Belas



Cachoeira do Lamarão























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