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Águas Belas: o encanto indígena e sertanejo do Agreste pernambucano

Postado por Ricardo Gouveia da Silva
Águas Belas, 22 de Junho de 2025

Localizada a aproximadamente 303 quilômetros da capital Recife, Águas Belas se destaca como uma das principais cidades do Agreste de Pernambuco, sendo a terceira maior da região. Com cerca de 43,9 mil habitantes, segundo estimativas do IBGE de 2021, o município não apenas ocupa a 41ª posição entre os mais populosos do estado, como também desponta como o 13º mais rico, de acordo com o Produto Interno Bruto (PIB) municipal. A emancipação política do município ocorreu no dia 13 de junho de 1871, durante o Império, tendo o coronel Benigno Rodrigues Lins como primeiro gestor local.

Raízes que brotam da terra e da história

O nome Águas Belas nasceu da admiração do ouvidor Jacobina, que ao provar das águas límpidas da região exclamou: “Águas belas, as desta povoação que a chamam de Ipanema, quando deviam chamar, antes, Águas Belas”. A origem da cidade, porém, é bem anterior. A região era habitada por povos indígenas tupiniquins, que se unificaram à tribo Carijós posteriormente reconhecidos anos depois como Fulni-ô, que quer dizer “filhos da margem do rio Ipanema nos arredores da Serra dos Cavalos. Com o tempo, formou-se o povoado inicialmente chamado Lagoa, depois Ipanema, até ser emancipado de Buíque em 1871. A elevação à categoria de cidade ocorreu em 1904.

Segundo registros históricos e estudos de pesquisadores como Olímpio Costa Junior, as comunidades originárias da região resultaram da fusão de diferentes etnias indígenas, entre elas Carapotós, Shocós e Carnijós, que deixaram descendentes ao migrarem para o vale do São Francisco, foi a partir dessa união que nasceu o povo Fulni-ô.

Hoje, a identidade indígena permanece viva, especialmente entre os Fulni-ô, povo originário que habita uma área de mais de 11 mil hectares, dividida em 427 lotes. Com uma cultura preservada com rigor, os Fulni-ô são os únicos indígenas do Nordeste com um idioma próprio em uso, o Yaathê. 

Com aproximadamente 5 mil indígenas, a Aldeia Fulni-ô é uma das maiores referências culturais da região. Formada por grupos como os Fola, Foklassa, Carijó e Bobradas, mantém rituais únicos como o Ouricuri, o Toré e a Cafurna, praticados em locais sagrados como a Serra do Comunaty e o Canto dos Guerreiros. Ainda há a aldeia dissidente Xixiáklá, composta por mais de 50 famílias, que reforça a pluralidade étnica do município.

Memória viva nas pedras e no barro

Águas Belas é também um rico sítio arqueológico a céu aberto. São pelo menos 12 locais com pinturas rupestres descobertos desde o século XVII, como o Morro do Angu, Pedra do Sino (tombada pelo IPHAN), o Sítio das Marias PretasSerrotãoMorro do Bode, entre outros. Esses registros pré-históricos revelam a longa ocupação humana e a importância cultural da região.

Força afrodescendente e comunidades quilombolas

A memória africana pulsa nas comunidades quilombolas de Curral Novo e Tanquinhos, que celebram o samba de roda, o coco, o samba de pé e as rezas tradicionais como herança viva. A Festa de São Benedito, celebrada nos sítios Quilombo e Pinhão, é exemplo dessa riqueza religiosa e cultural, enraizada nas manifestações populares do povo afrodescendente.

Educação e saúde: desafios e avanços

Na área educacional, Águas Belas possui 28 escolas de ensino fundamental e três de ensino médio. Conforme dados de 2019 do IBGE, o município alcançou nota 4,7 no IDEB tanto para os anos iniciais quanto para os finais do Ensino Fundamental. Esses números indicam estabilidade nos indicadores de qualidade da educação pública e refletem esforços contínuos na busca por melhorias.

Na saúde, a cidade conta com 10 unidades públicas, oferecendo atendimento básico à população. Em 2019, a taxa de mortalidade infantil registrada foi de 15,63 a cada mil nascidos vivos, enquanto as internações por diarreias, segundo levantamento anterior, foram de 0,7 por mil habitantes — índices que colocam o município em posição intermediária entre os municípios do estado.

Economia ligada à terra

A base econômica de Águas Belas está fortemente ancorada na agricultura e na pecuária, atividades que movem a zona rural e sustentam centenas de famílias. O PIB per capita de R$ 8.140,21 (em 2018) evidencia os desafios da economia local, mas também o potencial de crescimento, especialmente com investimentos no setor agroindustrial e turismo cultural.

Cultura viva e turismo com identidade

Um dos maiores patrimônios de Águas Belas é a riqueza de sua cultura. O artesanato indígena, com cestarias, trançados e peças decorativas, revela o talento das mãos que mantêm vivas tradições seculares. A visita à tribo dos Fulni-ô, mediante autorização da FUNAI, é uma experiência única de imersão cultural.

Entre os atrativos turísticos, destacam-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída no século XVII, e a imponente Serra do Comunaty, na divisa com Alagoas, com seus 350 metros de altitude e uma vista de tirar o fôlego. O local é ideal para trilhas, contemplação da natureza e práticas de ecoturismo.

Durante os meses de janeiro e fevereiro, Águas Belas ganha ainda mais cor e tradição com a festa de São Sebastião, que reúne fiéis e turistas em uma celebração marcada por novenas, missas, procissões e manifestações populares como o pastoril e o reisado.

Calendário festivo: devoção e cultura popular

A cidade pulsa ao ritmo de eventos religiosos, cívicos e culturais que ocorrem durante todo o ano. Entre os principais, destacam-se:

EventoLocalMês
Novenário de São SebastiãoPraça São SebastiãoJaneiro
Festa de YassaklaneAldeia Fulni-ôFevereiro
Semana do ÍndioAldeia Fulni-ôAbril
Trezena de Santo AntônioPovoado GarciaJunho
Emancipação PolíticaPraça N. Sra. da ConceiçãoJunho
Festa das ÁguasPraça N. Sra. da ConceiçãoAgosto
Entrada do OuricuriAldeia Fulni-ôSetembro
Festa de São BeneditoQuilombo e PinhãoDezembro

Outros eventos incluem a Feira Livre — considerada a maior do interior de Pernambuco —, vaquejada, motocross, bike trilha, a tradicional “pega de boi” no mato e diversas celebrações religiosas como o Natal, Réveillon, a Festa do Padre Cícero e as trezenas em latim celebradas há mais de 170 anos.

Geografia e território

Com uma área de 885,98 km², Águas Belas está inserida no semiárido brasileiro, o que exige resiliência e adaptação do seu povo. Faz fronteira com os municípios de Buíque, Pedra, Iati, Itaíba e com o estado de Alagoas. O acesso se dá pelas rodovias BR-423 e PE-300, que ligam a cidade a diversos centros urbanos do estado.

Águas Belas é mais do que um nome bonito. É um mosaico de histórias, lutas, fé, resistência e beleza. Uma cidade onde a cultura indígena pulsa em cada canto, e o sertão revela sua força em cada gesto de quem vive com orgulho e esperança no coração do Agreste pernambucano.


Centro de Águas Belas



                    Entrada da Caverna do Reino Encantado



Cachoeira do Lamarão


Cachoeira Serra da Felipa

Visão da Pedra da Baleia

Visão do Rio Ipanema

Ponte do Rio Ipanema
 
Visão Noturna da Cidade da Serra da Felipa 

Visão Noturna do Centro de Águas Belas

Sobrado

Pedra da Baleia

Praça Nossa senhora da Conceição

Museu Frederico Kimin na Alameda

Monumento ao Toré dança sagrada do povo Funiô

Igreja Matriz

Cruzeiro da Passagem do Século 

Cemitério Cruz das Alma no topo da Serra do Comunaty

Casa de Oração Padre Cicero Monteiro do Garcia


Casarão Centenário 

Casarão Centenário

Casarão na Fazenda Nova
 
Canto dos Guerreiros Aldeia Indígena Funiô


Capela no Centro da Aldeia Funiô

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Sobre Ricardo Gouveia

Ricardo Gouveia é jornalista sob o DRT nº 5662/PE, com pós-graduação em Comunicação,escritor, pastor evangélico com formação em teologia, psicologia pastoral, capelania e missiologia, além de ser bacharel em Biomedicina e Enfermagem.

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