Impostômetro

Brasil

 

PT enfrenta declínio histórico nas prefeituras, mas aposta em alianças e redutos regionais

 

Domingo, 29 de Setembro de 2024 - Por Ricardo Gouveia

O Partido dos Trabalhadores (PT) atravessa um período de queda significativa no número de prefeituras sob seu comando, especialmente se comparado ao cenário de 2004, quando conquistou 411 cidades, incluindo nove capitais. Em 2020, esse número encolheu para 183, sem eleger prefeitos em nenhuma capital. As eleições municipais deste ano indicam que o partido tem chances de vencer em quatro capitais, mas as pesquisas apontam para resultados desfavoráveis.

Em São Paulo, maior cidade do Brasil, o PT optou por não lançar candidato próprio, apoiando Guilherme Boulos (PSOL), que tem Marta Suplicy, do PT, como vice. A escolha reflete uma estratégia de alianças, diferente de 2012, quando o partido elegeu Fernando Haddad como prefeito.

Em Goiânia, o cenário eleitoral é disputado, com a petista Adriana Accorsi e Sandro Mabel (União Brasil) tecnicamente empatados, segundo levantamento da Quaest. Mabel registra 24% das intenções de voto, enquanto Accorsi aparece com 22%, dentro da margem de erro de três pontos percentuais. No entanto, as projeções de segundo turno mostram um cenário mais complicado para a candidata do PT.

Porto Alegre apresenta um cenário semelhante, com a deputada Maria do Rosário (PT) enfrentando uma queda expressiva nas pesquisas. Em agosto, ela tinha 31% das intenções de voto, mas na última pesquisa, o número caiu para 24%, enquanto Sebastião Melo (MDB) consolidou 41%.

Mesmo no Nordeste, considerado um reduto petista, a situação não é favorável. Em Teresina (PI), o candidato do PT, Fábio Novo, está atrás de Silvio Mendes (União Brasil), com 40% contra 44%. Esses resultados contradizem a previsão otimista de Lula no final do ano passado, quando o presidente afirmou que o PT teria uma "vitória extraordinária" nas eleições de 2024.

Humberto Costa, senador e coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT, havia destacado o foco do partido nas capitais nordestinas, apontando a região como um importante reduto da esquerda e do presidente Lula. "Queremos ganhar algumas dessas capitais", afirmou Costa no início de setembro.

Estratégia de alianças e enfraquecimento nas prefeituras

Segundo o cientista político Magno Karl, o declínio do PT nas eleições municipais reflete uma estratégia adotada no início dos anos 2000, focada nas eleições presidenciais. "O PT apostou em alianças com outros partidos nas disputas locais e estaduais, visando garantir apoio nas eleições nacionais", explica Karl. Para ele, essa política prioriza a vitória nas urnas presidenciais, em detrimento de conquistas em prefeituras e governos estaduais.

André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, vê a queda no número de prefeitos eleitos pelo PT como um reflexo da dificuldade de renovação de lideranças e de adaptação do discurso às demandas eleitorais. "Lula também tem se distanciado dessas disputas porque reconhece os desafios que os candidatos enfrentam e prefere preservar sua imagem", aponta César.

Para Karl, o lulismo tem se sobreposto ao petismo nos últimos 20 anos, com o partido focando mais em apoiar o projeto nacional de Lula do que em fortalecer suas bases municipais. Esse movimento, segundo ele, enfraquece o projeto partidário em favor da figura de Lula.

Rodrigo Morais, consultor político, lembra que o governo Lula 3.0, ao contrário dos mandatos anteriores, é uma coalizão ampla. A capacidade do presidente de utilizar a máquina federal para impulsionar campanhas municipais está mais limitada. "O Congresso e os partidos ganharam controle sobre o Orçamento federal, o que restringe a influência do Executivo nas campanhas locais", analisa Morais.

Enquanto o PT enfrenta esse cenário adverso nas eleições municipais, a aposta em alianças e na influência regional ainda pode trazer resultados pontuais, mas a queda nas prefeituras é um sinal claro de que o partido precisa rever sua estratégia para retomar o protagonismo local.

Do Correios Braziliense

0 comentários:

Postar um comentário