
Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024 ás 10:01 - Por Ricardo Gouveia
Um marco significativo na luta contra o HIV foi recentemente alcançado: um sexto paciente foi declarado curado do vírus e está livre da AIDS. Um sétimo paciente também curado em Berlin torna esses casos, diferente dos anteriores e representa um avanço importante no combate à doença que há décadas desafia a ciência. Mas o que torna essa cura especial, e por que é tão difícil erradicar definitivamente o HIV?
Desde a descoberta do HIV nos anos 80, a comunidade científica tem se esforçado para entender e combater essa pandemia, que já causou milhões de mortes. Embora o diagnóstico de HIV tenha sido uma sentença de morte no passado, os avanços no tratamento transformaram essa realidade. Hoje, com o uso de coquetéis antirretrovirais, os pacientes conseguem viver normalmente, mantendo o vírus indetectável no organismo. Contudo, a cura definitiva do HIV continua sendo um desafio monumental.
O caso mais recente de cura remonta a um paciente infectado desde a década de 90. Em 2018, ele foi submetido a um transplante de medula óssea para tratar um câncer. Diferente dos casos anteriores, onde os pacientes receberam medula de doadores naturalmente resistentes ao HIV, o transplante desse paciente não envolveu células "superimunes". Mesmo assim, após 20 meses, os médicos notaram a redução dos níveis de HIV em seu organismo, até que o vírus se tornou indetectável e o tratamento com coquetéis antirretrovirais foi interrompido. O paciente estava curado.
A cura através de transplantes de medula já havia sido documentada em outros cinco casos. Esses transplantes são baseados na substituição das células infectadas por células de doadores que possuem uma rara mutação genética que impede a infecção pelo HIV. No entanto, o procedimento é altamente arriscado e impraticável como solução em larga escala, pois o corpo pode rejeitar a nova medula, resultando em complicações graves.
O que torna o sexto caso diferente é que a medula transplantada não era de um doador com essa mutação genética protetora. Cientistas acreditam que o uso de um medicamento chamado ruxolitinibe, utilizado para evitar a rejeição da medula, pode ter desempenhado um papel crucial. Há indícios de que a droga tenha impedido o HIV de reativar-se no organismo, bloqueando a multiplicação do vírus.
Esse avanço abre novas possibilidades para tratamentos futuros. Pesquisadores agora planejam testar a eficácia do ruxolitinibe em outros pacientes com HIV para verificar se ele pode se tornar uma solução viável para a cura da AIDS. Apesar de promissora, essa abordagem ainda está em fase experimental.
A AIDS, que já foi uma pandemia mortal nos anos 80 e 90, ainda afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. A busca por uma cura definitiva enfrenta obstáculos como a capacidade do HIV de se esconder no DNA humano, permanecendo adormecido e longe do alcance do sistema imunológico e dos medicamentos. Mesmo com a eliminação do vírus no sangue, o DNA infectado em uma única célula pode reativar o ciclo de infecção.
A cura do HIV não será simples, mas casos como esse mostram que a ciência está cada vez mais próxima de compreender os mecanismos complexos da doença. O novo tratamento em potencial pode representar uma esperança para milhões de pessoas que convivem com o vírus.
Enquanto os cientistas continuam buscando respostas, a descoberta deste sexto caso de cura é um lembrete de que cada passo à frente, por menor que pareça, pode transformar vidas e, um dia, erradicar o HIV de uma vez por todas.
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